ARNALDO SERRA
( Mato Grosso do Sul – Brasil )
Arnaldo Olavo de Almeida Serra nasceu em Cuiabá em 1885.
Foi professor, jornalista e poeta. Viveu parte da vida em Cuiabá.
Faleceu em 1943. Deixou as obras Páginas íntimas, Aromita, Cenas de minha terra.
É patrono da cadeira n. 25 da Academia Sul-Matogrossense-de-Letras.
REVISTA da Academia Sul-Matogrossense de Letras. No. 14.
Dezembro de 2008. Campo Grande, MS: 2008. 192 p.
Ex. cedido por Rubenio Marcelo
Aromita
Na minha infância
Que eu recordo hoje
Engolfado nas brumas da Saudade,
Eras, apenas, o espinheiro
Agreste,
De folhas rendilhadas
E flores amarelas
Formato de arminhos,
No esmeraldino seio do vargedo
Onde a brisa gostava de brincar,
— Esponja, diziam os namorados que passavam...
Depois... depois que os sonhos
Dos casulos de painas cor-de-rosa
Alçaram os voos
E dos céus do meu viver se iluminaram
De pudicas quimeras
Em regiões distantes,
Fui te encontrar a mesma,
Solitária, na encosta alcantilada
Das minhas fantasias,
Embalsamando a luz das alvoradas
Com as tuas pequeninas flores sensitivas
Como se, então, soubesses em segredo
Das fugitivas cousas...
E quis saber mais uma vez teu nome,
— As bandas do Levante eram outras.
E alguém passando
Segredou baixinho
Na doçura da frase
Que inda escuto
Engolfado nas brumas da Saudade,
Sentindo o teu perfume
Evocativo: aromita...
Passado
Dize-me, humano ser, se não crepita
No tardo coração que tens no peito,
O acre-doce pungir, já rarefeito,
Que nos sacode, às vezes, quando grita
A lembrança das cousas — quer desfeito
O próprio vendaval que a flora agita
Nas vozes do trovão; a cor da fita
Langorosa que prende ebúrneo leito,
Ou o perfume sutil, agonizando,
Como se houvesse, triste, regressando
De uma noite de mundos constelados...
Qual mísero mortal, que inda vivendo,
Não tenha à porta da cabana, ardendo,
A pira de seus sonhos evolados!...
Coração Pequeno
Faz tempo que a filha pequenina
Que sete anos, apenas, tem de idade,
Sai à luz da primeira claridade,
Apanhando a gentil, casta bonina
Que encontra no quintal. E na divina
Visão subtil de sua castidade,
Entra na sala na maior surdina,
E sorrindo, na sua ingenuidade,
Vem a gentil corbelha me ofertar.
E penso: se é grande o imenso mar,
O imenso céu... maior é o Criador
Que pôs o afeto, um mundo de grandeza,
Todo o esplendor, enfim, da Natureza,
Na corola pequena de uma flor...
Sabiá
Não cantes mais assim junto à casinha,
Onde outrora habitam meus amores;
Ao lado, a laranjeira branca em flores,
Trescalava perfumes de rainha.
Quando vinhas carpir as tuas dores,
Stela aparecia-me à tardinha,
Na noite de cabelo a flor sustinha
E nos olhos de luz, quantos fulgores...
Hoje nada mais resta que a pobreza.
A ilusão partiu. Veio a tristeza
Chorosa, um dia, se abrigar em mim.
E choro quando ouço o triste canto,
De quem chora comigo tanto pranto:
— Sabiá, não mais cantes triste assim...
*
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Página publicada em julho de 2022
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